À medida que se aproximava o fim do primeiro ano de Fernando Carneiro imaginávamos que haveria festa rija entre camaradas, amigos e apoiantes. Mas pensávamos que a festa decorreria sem grande alarido. Enganámo-nos porque o nosso presidente, imaginativo como é, surpreendeu-nos mais uma vez. E já vimos que não vale a pena fazer previsões com ele porque saem sempre furadas.
Pois o senhor Fernando Carneiro, querendo fazer eco do que fez e como fez durante o ano como presidente da Câmara, tratou de convidar televisões, rádios, jornais e pasquins para fazer o balanço (ou o balancete?) dos 365 dias. Até aqui tudo bem, com o senão de não terem comparecido as televisões, as rádios de cariz nacional. E de tantos e tantos jornais parece que apareceu um, o que não deixou de ser frustrante para quem fizera um programa tão grande para a festa.
Mas o senhor Fernando Carneiro, convencido das suas capacidades oratórias, com discurso fluente e rico de vocabulário só ao alcance de grandes escritores em prosa e em poesia, convidou os amigos, os apoiantes, os camaradas, os presidentes das juntas e outra gente para terem o privilégio de assistirem á sua actuação no palco do Centro de Cultura. Sim, da cultura, porque é um homem que bafeja e transpira cultura.
Com tantos convites a tanta gente esperava-se casa cheia e que nem coubessem lá todos os convidados, o que seria mal feito se não houvesse lugar para todos porque, quando se convida alguém ,o lugar deve estar garantido.
Mas como tínhamos receio de enorme adesão, fomos cedo porque queríamos ficar sentados dado que a idade não perdoa e temos problemas de reumatismo. Não aguentávamos ficar em pé durante o discurso, obrigatoriamente longo a que se acrescentariam muitas perguntas de tantos jornalistas aguardados, mas que, pelo que soubemos, uns foram para Lamego e outros para Viseu por falta de placas a indicarem o local do espectáculo. Com tantas coisas há sempre coisas que escapam, o que foi uma pena e os jornalistas não sabem o que perderam.
Para nosso espanto, a maior parte das cadeiras ficaram vazias. Fomos para aí uns vinte heróis a assistirem á actuação do senhor Fernando Carneiro que meteu música ,daquela de embalar, que até ficámos ensonados. Mas como não podia faltar também meteu água como já se previa e nós, já com esse receio de nos molharmos ,escolhemos cadeiras daquelas lá de cima porque assim tínhamos tempo de fugir se víssemos a água a subir como vimos.
O discurso que nos foi servido pelo artista foi uma salada russa. Esperava-se por balanço de um ano, mas falou-nos do passado em que disse que fez muito e tudo bem feito, falou-nos do presente e até já fez o balanço do futuro, misturando água, casca de banana para escorregarmos e intenções que adivinha num país e num concelho onde não há falta de dinheiro, mas apenas tempo de o gastar. Ficámos tão contentes que não conseguimos conter as lágrimas com tamanha emoção. E não admira porque até as pedras da calçada ficaram em sobressalto. Vejam como não terá sido o espectáculo. Aquilo, só visto, não há palavras!!!
O senhor Fernando, a dado passo, garantiu que com ele não há trabalhos a mais. Nada mais certo porque isso já todos nós tínhamos visto ao longo do ano. Toda a gente reconhece que o que houve foi trabalhos a menos. Mas como já sabíamos isso, o senhor Fernando podia ter-nos poupado ao sacrifício e deixar-nos descansados sem nos convidar. Tinhamos merendado bem em casa, a tempo e horas. Mas á primeira quem quer cai e á segunda cai quem quer. Nós não queremos cair mais. O que o senhor Fernando não disse é que meteu pessoal por cunhas, está a gastar dinheiro com gente que nada faz e que até reorganizou os serviços onde conta com espiões do “ diz-se,diz-se”, formado com funcionários que vergavam a mola e agora estão de costa todo o dia, andando na vila, nos cafés a ouvirem para contarem. Ao que isto chegou! Parece que o chefe da Brigada é um ex-cobrador das águas. Entendem?